Uma das dúvidas mais comuns e recorrentes entre os guitarristas é: Qual a diferença entre um pedal de drive, um pedal de preamp e um pedal de simulação de amp? Um pedal de preamp é um pedal de drive e vice-versa? O que significa ligar um pedal direto em linha:
Pode parecer confuso às vezes, mas nesse post vamos falar exatamente do que se trata, e responder todas estas perguntas.
Basicamente, os pedais de overdrive, distortion e fuzz foram criados para se reproduzir a sonoridade de um amplificador valvulado saturado. Um dos primeiros sons distorcidos de guitarra que podemos ouvir em gravações (e uma história bem legal e maluca) é a de que em 1964 os irmãos Dave e Ray Davies da banda The Kinks danificaram (com alfinetes ou lâminas, não se sabe ao certo) os alto falantes de um amplificador, o que gerou neste amplificador um som distorcido. De fato quando se escuta a música You Really Got Me (no disco do The Kinks, não a versão gravado no disco Van Halen I) se percebe um som de guitarra que não é 100% limpo…
Voltando em 1960, na gravação da música Don´t Worry do artista Martin Robbins (tem aí no youtube, escute por favor), você escuta um som de guitarra super distorcido muito maluco, aparentemente até fora de contexto, que inspirou a criação do que seria o primeiro pedal de fuzz, o Maestro Fuzz Tone (em 1962), que fora imortalizado e teve sua sonoridade popularizada mundialmente quando Keith Richard o usa na gravação da música Satisfaction, dos Rolling Stones.
Certo, depois desse contexto histórico inicial, muito se desenvolveu em termos de sonoridades de amplificadores distorcidos e unidades de efeito. Hoje em dia (em meados de 2020) temos uma infinidade de opções de pedais que geram timbres de distorção, overdrives, fuzz, que simulam amplificadores, pré amplificadores e gabinetes. Tal gama de opções trazem dúvidas recorrentes como, como funcionam, pra que servem e como utilizar esses pedais?
Grande parte dessas dúvidas reside no fato de que muitas vezes não temos o conhecimento claro de como se funciona um amplificador de guitarra. Então primeiro precisamos esclarecer:
Como funciona um amplificador de guitarra? (em 3 etapas)
- – Depois de tocar as cordas e ser captado pelos captadores, o sinal da guitarra é enviado ao preamp do seu amplificador. Este sinal chega fraquinho… ainda insuficiente para ser processado ou reproduzido como áudio. O circuito do preamp executa as primeiras etapas de processamento do sinal da guitarra: equaliza, distorce (ou seja, provoca a clipagem do sinal gerando o overdrive ou distorção, quando desejado) e principalmente, pré-amplifica o sinal, elevando ao que chamamos nível de linha. Esta etapa define grande parte da sonoridade do amplificador, principalmente em relação aos sons distorcidos. A clipagem do sinal pode acontecer com o uso de circuitos de preamp que possuem transistores ou válvulas. As válvulas mais utilizadas para a pré-amplificação são as válvulas do tipo 12ax7.
2 – O sinal pré-amplificado, já equalizado e vai então para o poweramp (ou potência), onde ele é efetivamente amplificado a um nível que pode ser então reproduzido por alto-falantes.
A seção do power amp também define características no timbre, e alguns controles também estão presentes nesta etapa, como o volume master e presence.
É nesse estágio que atuam as válvulas do poweramp, como as 6L6 e EL34 (aquelas grandes)
Obs.: Quando ambas as etapas de preamp e power amp utilizam válvulas, chamamos o amplificador de valvulado. Alguns amplificadores possuem válvulas apenas na seção de pré-amplificação, tendo o Power Amp transistorizado. Nesse caso, chamamos o amplificador de pré-valvulado ou híbrido.
3 – o sinal amplificado pelo power amp é então enviado para o(s) alto-falante(s) para serem finalmente reproduzidos como ondas sonoras.
O tipo, tamanho e número de alto-falantes, tamanho do gabinete, o gabinete ser fechado atrás ou não, são fatores que também afetam o resultado sonoro final
Quando os amplificadores possuem os circuitos do preamp e poweramp e alto-falantes em uma mesma estrutura, chamamos de combo.
Alguns amplificadores possuem o preamp e poweramp em um cabeçote, que apenas pré-amplifica e amplifica o som conforme já explicamos. O cabeçote deve então ser ligado em um gabinete para reproduzir o áudio através de alto-falantes.
Para conhecer mais detalhes sobre o funcionamento de amplificadores de guitarra, assista alguns vídeos em nosso canal do youtube!
Qual é então a diferença entre um pedal de preamp, pedal de drive e pedal de simulação de amp?
Depois de se entender o básico do funcionamento dos amplificadores, conseguimos ver melhor o que cada tipo de pedal se propões a fazer, neste contexto!
Pedais de drive – overdrive, distortion, fuzz
Estes pedais são unidades de efeitos que simulam a etapa de clipagem dos preamps de amplificadores, porém em um circuito reduzido e portátil. Basicamente elevam o nível do sinal acima do limite de headroom gerando a distorção harmônica (o formato e intensidade das ondas sonoras determinam se o efeito será um overdrive, distortion ou fuzz, mas isso é assunto para outro texto).
Pedal de preamp e simulador de preamp
Pedais de preamp e pedais simuladores de preamp são unidades de efeito que possuem o exato circuito de um preamp, ou simulam exatamente a característica sonora de um preamp de um amplificador.
Mas qual a diferença entre um pedal de preamp e um pedal de drive comum?
Os pedais de preamp e simuladores de preamp se propõem a reproduzir a sonoridade de toda a seção de preamp de um amplificador. Isso abrange os sons dirtorcidos destes amplificadores (o que torna a utilização de um simulador de preamp como um pedal de drive comum), porém se expande à sonoridade dos sons limpos do amplificador (imagine você que em alguns amplificadores, como o Fender Twin Reverb, ou o Roland Jazz Chorus o som limpo é muito desejado, em muitos casos mais que o drive). Além disso, vários amplificadores emblemáticos na história possuem sonoridades bastante específicas, e os pedais de preamp buscam exatamente estas sonoridades (por exemplo: Marshall, Vox, Mesa Boogie, Fender, etc).
O que temos que ressaltar é que os pedais de preamp emitem a sonoridade de seção de preamp apenas, e não simulam alto-falantes e gabinetes.
Pedais simuladores de gabinetes
Também conhecidos como CAB SIM, são pedais que simulam apenas gabinetes de amplificadores. Este tipo de pedal não geram sons distorcidos, mas apenas modelam o timbre da sua guitarra para que ela soe como se estivesse plugada em gabinetes específicos, como caixas com falantes 1×8″ ou 4×12″ por exemplo. Pode não parecer tão claro, mas uma enorme parcela da sonoridade do amplificador está em seus alto falantes.
Alguns pedais simuladores de gabinetes, além de simularem os tipos, tamanhos e número de alto-falantes utilizados, possuem também funcionalidades bem específicas como simulação de válvulas do poweramp, simulação de microfonação, e equalizadores que permitem uma moldagem bem específica do timbre simulado.
Pedais de CAB SIM como o Cab Box permitem o carregamento externo de IR (impulse responses). Isto traz a possibilidade de se obter a sonoridade de qualquer gabinete que tenha tido seu timbre processado em um processo de captura sonora.
Pedais simuladores de amp
Os pedais simuladores de amplificadores, também conhecidos como “amp in a box” são basicamente pedais de drive que possuem características sonoras e equalizadores paramétricos que permitem que reproduzam a sonoridade simulada de um amplificador completo, incluindo o seu preamp, poweramp e gabinete.
Pedais com estas características oferecem soluções não tão versáteis e específicas, se comparados a pedais de simulação de gabinetes e de preamp, porém são muito práticos. Uma utilização muito interessante é a de liga-lo como um dos últimos pedais da sua cadeia (mas antes de reverbs e delays) para processar todos os efeitos ligados anteriormente, adicionando ao timbre uma camada sonora que deixa a sonoridade com características do amp que o pedal simula. Por exemplo, se você ligar todo o seu setup em um pedal que simula um Marshall, mesmo com o drive deste pedal zerado, você vai soar como se você tivesse ligado todos os pedais em um Marshall.
Além de adicionar uma característica sonora já específica de um amplificador, isso permite ligar a sua cadeia de pedais em linha.
O que significa ligar um pedal direto em linha?
É importante dizer que todos os 4 tipos de pedais que mencionamos não substituem a necessidade da utilização de um amplificador. Estes pedais não possuem circuitos de potência que permitem que o som seja amplificado para serem reproduzidos por alto falantes.
Da mesma forma, ao se ligar pedais de drive ou pedais simuladores de preamp em qualquer dispositivo que não seja o input de um amplificador, o resultado sonoro será muito ruim (o drive vai soar como uma caixa de abelhas kkk). Isso ocorre por estes pedais não possuírem uma simulação de gabinetes (é como se reproduzissem apenas a etapa de pré-amplificação do seu amplificador, como explicamos acima).
Mas quando temos pedais que façam a simulação de gabinetes, ou pedais simuladores de amp, podemos plugá-los diretamente em interfaces de áudio ou mesas de som, e se obter uma sonoridade muito próxima da de um amplificador real.
Ligar pedais que tenham de alguma forma parâmetros de simulação de gabinetes diretamente em dispositivos como interfaces de áudio ou mesas de som (e não em um amplificador) é o que conhecemos popularmente como ligação direta em linha.
Vale apenas ressaltar que o termo “ligar em linha” não tem absolutamente nada a ver com o sinal em nível de linha gerado por preamps de amplificadores, ok?
Veja a diferença destes tipos de ligação neste vídeo do canal do Juninho Nakagawa:
Conclusão... preciso ter pedais simuladores de amp, gabinetes, preamp... ?
Os pedais de drive são os mais populares e os mais usados em uma gama muito ampla de estilos musicais, isso é fato. Eventualmente todo mundo que usa pedais acaba tendo algum pedal destes no setup.
Os pedais simuladores de amp podem ser usados como pedais de drive “comuns”, ligados no input do seu amplificador e te fornecendo sonoridades de sons distorcidos. Mas como oferecem outros tipos de ligação úteis, como a ligação em linha, proporcionam boas soluções pra quem quer gravar silenciosamente, ou mesmo tocar com sistemas de potência amplificada sem utilizar um amplificador de guitarra.
Um pedal de preamp também pode ser usado como um drive comum no board, ligado diretamente no input do seu amplificador. No entantanto, assim como um pedal de drive, não vai fica tão bom ligado direto em linha.
Pedais simuladores de gabinetes e pedais simuladores de preamp podem te dar também uma vasta opção de sonoridades, o que pode ser muito útil para repertórios em que se deseja ter características sonoras muito variadas. Efetivamente, se você muda todos os pedais de drive do seu setup mas pluga em um amplificador, a sonoridade vai ter sempre a característica do amplificador. Já simulando diferentes amplificadores, cada simulação vai gerar sonoridades específicas e bem diferentes em seu setup. Outra vantagem é a de permitir a ligação do seu setup diretamente em linha.
Gostou desse texto? Tire as suas dúvidas nos comentários e lembre-se que o principal fator para se tirar uma boa sonoridade é conhecer, entender e saber configurar bem os seus equipamentos!
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Um abraço e até a próxima!
Referências:
https://youtu.be/XTGmfsKHcXo
Livro Efeitos para guitarra e outros instrumentos, Márcio Falcão, volume 1, Ed Funalfa
4 Comentários
Matheus de Alcântara Freitas
Texto muito esclarecedor, adorei saber do blog e já estou divulgando para meus alunos.
Rui Carlo
Fala Matheus! poxa ficamos muito felizes de termos ajudado a esclarecer um pouco sobre esse tema e ajudar os seus alunos! Qualquer dúvida manda aí! Abs
fabiano
boa noite
tenho um set de pedais e meu pedal de simulador de amp american sound está ligado depois dos delays e do reverb, mas antes de um simulador de gabinetes, o certo é eu ligar este american sound logo depois das distorções e antes dos delays e reverb?
Obrigado
Rui Carlo
Fala Fabiano!
Cara, ordem dos pedais é uma coisa que as pessoas colocam um monte de regras, que às vezes fazem sentido, às vezes não. Nesse caso, é um desses em que não vai ter mesmo uma ligação CERTA ou ERRADA. Você pode ligar o American Sound antes ou depois dos seus drives, e isso vai dar efeitos distintos. Vc pode também ligar o American Sound lá no final, depois do delay e reverb, porém se vc usar muito ganho no American nesse caso, o som do seu delay e reverb vai ficar meio esquisito (o que não é errado, mas é uma sonoridade peculiar). Basicamente eu recomendaria vc tentar dessas 3 formas e ver como te agrada mais! Abs
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